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A maioria dos jornalistas ainda resiste à idéia de que os blogs tendem a ser um componente obrigatório na atividade informativa. As restrições vão desde a questão da credibilidade até à caracterização dos blogs como veículos de opiniões pessoais e como ambiente para fofocas de bairro. Embora essas restrições e questionamentos tenham algum tipo de fundamento, elas dificultam a percepção de uma realidade mais ampla, em que fica cada vez mais claro que sem os blogs a imprensa, como a entendemos hoje, deixa de ser viável para se transformar apenas numa newsletter para segmentos restritos do público consumidor de informações. A inviabilidade da sobrevivência do modelo atual de produção de notícias vem do fato de que os jornais, rádios, emissoras de televisão e até as páginas noticiosas na Web não têm mais condições de cobrir, apenas com o seu staff, toda a ampla agenda de interesses do público. É uma situação quase matemática. A agenda de interesses cresceu exponencialmente por conta da avalancha informativa gerada pela internet, ao mesmo tempo em que as receitas das empresas jornalísticas caíram vertiginosamente por conta da migração publicitária para a Web e da mudança de hábitos dos consumidores de notícias. A conta não bate. A única alternativa que parece viável no momento é ver os blogs não como um obstáculo, mas como um componente do processo de produção de notícias jornalísticas. Mas para isto é preciso levar em conta algumas especificidades deste tipo de ferramenta de comunicação: 1) Os blogs têm duas características centrais: a temática local e a publicação de opiniões pessoais. 2) A preocupação com o local vem da própria natureza do blog, produzido em quase 90% dos casos por indivíduos cuja principal característica é conhecer bem uma área geográfica ou um determinado campo de conhecimento, hobby ou profissão. Em teoria, todas as duas áreas são de grande interesse jornalístico pelo potencial de produzir notícias. 3) O caráter opinativo dos blogs é uma decorrência da qualificação intelectual dos seus autores, em geral indivíduos que dominam muito bem determinadas áreas do conhecimento mas não podem ter a função testemunhal de um jornalista profissional ou de um blogueiro quando estes se encontram no local onde ocorrem os fatos. Aqui, também, em teoria, o blog opinativo pode ter uma função chave na contextualização de noticias jornalísticas. Procurando ver a floresta e não apenas as árvores, é possível constatar que um blog local pode virar peça da informação global com a mesma importância, ou até maior, do que os correspondentes estrangeiros ou enviados especiais. Um blogueiro de Tegucigalpa faz jornalismo local ao publicar informações sobre a crise hondurenha, mas ganha status global quando suas informações servem de base para o material jornalístico da imprensa internacional. Menosprezar os blogs alegando que eles só repercutem o que é publicado na imprensa convencional é ver apenas uma parte do problema, ignorar de onde vem a notícia nos dias de hoje e tentar preservar um certo ar elitista do jornalismo. Visto nesta perspectiva, é absurdo descaracterizar o blog pelo fato de ser local e produzido por uma pessoa. O que a imprensa deveria fazer é cultivar de forma cada vez mais intensa e sistemática o que especialistas como o australiano Axel Bruns[1] chamam de gatewatching, em oposição ao gatekeeping. Em vez de priorizar a seleção de notícias que serão passadas ao público (gatekeeping ou porteiro de noticias, uma função em extinção), os profissionais deveriam preocupar-se mais em procurar saber o que está sendo publicado nos blogs (gatewatching) para identificar fatos e tendências novas que serão usadas para informar leitores, ouvintes e telespectadores. A outra grande questão é a da credibilidade dos blogs, um tema bem mais complexo porque mexe com valores vigentes há séculos e que se baseiam no principio de que determinadas pessoas ou instituições têm o poder de certificar o que é verdadeiro ou falso. No contexto da avalancha informativa, os instrumentos tradicionais como checagem de notícias, imparcialidade, isenção e objetividade passam a ter cada vez mais um caráter relativo já que dificilmente uma redação terá condições de chegar à essência dos fatos dada a complexidade das notícias e o ritmo frenético de publicação das mesmas. A imprensa não pode mais garantir sozinha toda a verdade porque isto é materialmente impossível. O mesmo mecanismo se aplica aos blogs. Assim, tanto os jornalistas como os consumidores de informação e os próprios blogueiros não têm outra alternativa senão apoiar-se na chamada leitura crítica, que não tem nada de pejorativo e nem está baseada na desconfiança. A leitura crítica, sobre a qual poderemos conversar mais noutro post, está fundamentada na dúvida gerada pela constatação acaciana de que ninguém é dono da verdade. Se ninguém pode saber tudo, todos nós temos algo que desconhecemos, algo sobre o qual temos dúvidas. Ter dúvidas na atividade jornalística é adotar a leitura crítica como ferramenta para aumentar a credibilidade na informação. [1] Bruns é o autor do livro Gatewatching, Collaborative Online News Production. Ele é professor de jornalismo e doutor em comunicação. |
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